Nasceu
em Abrantes, em 1824. Seu pai morrera meses antes. Com sacrifício, sua
mãe conseguiu que aprendesse a ler e a escrever, mas aos nove anos de
idade mandou-o para Lisboa, aos cuidados de um avô. Mal chegou à grande
cidade foi posto de aprendiz numa tipografia, onde tomou o gosto pelas
letras e pela leitura. Um dos seus patrões, o José João da Mota, do
Rossio, fazia cartazes para os teatros e
tinha como amigo um fiscal do Teatro São Carlos que o convenceu a
transformar em sala de espetáculos um barracão que possuía no Chiado. E
foi assim que, a 11 de maio de 1846, nasceram duas glórias do teatro
português: o Teatro Ginásio e… o genial Taborda.
Taborda havia começado alguns anos antes como ator amador na sociedade recreativa O Timbre, representando a divertida comédia “Quem tem Mazela tudo lhe dá Nela”. Mas agora seria mais a sério, com ordenado e tudo! A peça que inaugurou o Teatro Ginásio e que marcou a sua estreia como profissional, “Os Fabricantes de Moeda Falsa”, foi escrita e ensaiada por César Perini Lucca, um italiano professor do Conservatório, e tinha no seu elenco alguns dos melhores atores que então pisavam os palcos de Lisboa, onde pontificava a grande Emília Cândida – uma atriz que de tão magrinha era conhecida por Vareta –, com a qual Taborda acabaria por se estrear algum tempo depois no Teatro D. Maria II, ficando por lá durante duas temporadas.
Taborda também trabalhou no Teatro Trindade, de Lisboa, durante uma época. Mas o seu Teatro foi sempre o Ginásio! Foi lá que ele representou a esmagadora maioria dos espetáculos em que participou. E mesmo quando percorreu outros palcos pelo país fora e pelo Brasil foi sempre ao serviço da companhia do seu Ginásio. A relação do Taborda com o Ginásio era tão grande e tão profunda que havia um camarim naquele velho teatro que era só dele. Nunca ninguém lá entrou enquanto Taborda foi vivo, mesmo quando ele andou em digressão ou se afastou temporariamente por razões profissionais ou por quaisquer outras. Por ordem do empresário do teatro, aquele camarim esteve sempre fechado e só se abria quando Taborda ia lá representar.
O Ginásio era fundamentalmente um teatro de vaudeville e de ópera cómica, estilos em que Taborda foi verdadeiramente rei e senhor. Mas não só. Também na revista ele foi único! Ele esteve no primeiro espetáculo do género em Portugal, em 1851, exatamente no seu Teatro Ginásio. Chamava-se “Lisboa de 1850”, tinha como autores dos textos Francisco Palha e Latino Coelho, e teve Taborda como um dos seus intérpretes mais predominantes. Dois anos depois, Taborda faria também furor na revista “Fossilismo e Progresso”, de Manuel Roussado, ao imitar em travesti uma célebre cantora italiana daquela época («a grande, a gorda, a rara Alboni»). Na década seguinte o ator criaria uma personagem memorável: o Judeu Errante Júnior, compère de “À Roda da Parvónia”, de Guerra Junqueiro e Guilherme de Azevedo, considerado pela crítica e pelos colegas como a sua grande coroa de glória no teatro de revista.
Delgado, moreno, de rosto largo picado das bexigas, nariz grosso de narinas largas, um queixo bem marcado, orelhas grandes, uns olhos claros e límpidos, Taborda (Francisco Alves da Silva Taborda, de seu nome completo) foi um ator que antecipou o realismo. Sem um esgar, sem o mais leve exagero, sem um traço caricato na sua estranha fisionomia, sem um dito forçado, com a mais espantosa serenidade, ele levava o público ao delírio perante a sua grande comicidade. Verdadeiro ídolo das plateias populares, Taborda atingiria o auge da sua carreira com o notável desempenho de brilhantes personagens cómicas de grandes dramaturgos europeus, como foi o caso dos principais papéis das peças “O Misantropo” e “Médico à Força”, ambas de Molière.
Taborda havia começado alguns anos antes como ator amador na sociedade recreativa O Timbre, representando a divertida comédia “Quem tem Mazela tudo lhe dá Nela”. Mas agora seria mais a sério, com ordenado e tudo! A peça que inaugurou o Teatro Ginásio e que marcou a sua estreia como profissional, “Os Fabricantes de Moeda Falsa”, foi escrita e ensaiada por César Perini Lucca, um italiano professor do Conservatório, e tinha no seu elenco alguns dos melhores atores que então pisavam os palcos de Lisboa, onde pontificava a grande Emília Cândida – uma atriz que de tão magrinha era conhecida por Vareta –, com a qual Taborda acabaria por se estrear algum tempo depois no Teatro D. Maria II, ficando por lá durante duas temporadas.
Taborda também trabalhou no Teatro Trindade, de Lisboa, durante uma época. Mas o seu Teatro foi sempre o Ginásio! Foi lá que ele representou a esmagadora maioria dos espetáculos em que participou. E mesmo quando percorreu outros palcos pelo país fora e pelo Brasil foi sempre ao serviço da companhia do seu Ginásio. A relação do Taborda com o Ginásio era tão grande e tão profunda que havia um camarim naquele velho teatro que era só dele. Nunca ninguém lá entrou enquanto Taborda foi vivo, mesmo quando ele andou em digressão ou se afastou temporariamente por razões profissionais ou por quaisquer outras. Por ordem do empresário do teatro, aquele camarim esteve sempre fechado e só se abria quando Taborda ia lá representar.
O Ginásio era fundamentalmente um teatro de vaudeville e de ópera cómica, estilos em que Taborda foi verdadeiramente rei e senhor. Mas não só. Também na revista ele foi único! Ele esteve no primeiro espetáculo do género em Portugal, em 1851, exatamente no seu Teatro Ginásio. Chamava-se “Lisboa de 1850”, tinha como autores dos textos Francisco Palha e Latino Coelho, e teve Taborda como um dos seus intérpretes mais predominantes. Dois anos depois, Taborda faria também furor na revista “Fossilismo e Progresso”, de Manuel Roussado, ao imitar em travesti uma célebre cantora italiana daquela época («a grande, a gorda, a rara Alboni»). Na década seguinte o ator criaria uma personagem memorável: o Judeu Errante Júnior, compère de “À Roda da Parvónia”, de Guerra Junqueiro e Guilherme de Azevedo, considerado pela crítica e pelos colegas como a sua grande coroa de glória no teatro de revista.
Delgado, moreno, de rosto largo picado das bexigas, nariz grosso de narinas largas, um queixo bem marcado, orelhas grandes, uns olhos claros e límpidos, Taborda (Francisco Alves da Silva Taborda, de seu nome completo) foi um ator que antecipou o realismo. Sem um esgar, sem o mais leve exagero, sem um traço caricato na sua estranha fisionomia, sem um dito forçado, com a mais espantosa serenidade, ele levava o público ao delírio perante a sua grande comicidade. Verdadeiro ídolo das plateias populares, Taborda atingiria o auge da sua carreira com o notável desempenho de brilhantes personagens cómicas de grandes dramaturgos europeus, como foi o caso dos principais papéis das peças “O Misantropo” e “Médico à Força”, ambas de Molière.
imagem: Boletim Fotográfico - Hemeroteca Digital - de Junho 1901
Apesar da sua imensa
popularidade, Taborda nunca deixou de ser um homem humilde e bom, de
grande carácter, que tinha um amigo sincero e devotado em cada
português, sendo um deles muito especial – o Dr. Sousa Martins. Outros
homens especiais dedicaram-lhe também grande apreço e amizade. Foi assim
com Sua Majestade o Rei D. Fernando II e com o escritor Almeida
Garrett, que não perdiam nenhum dos seus espetáculos e com ele
partilharam muitas noites de convívio. Foi aliás graças a estes dois
seus grandes amigos e protetores que Taborda beneficiou de uma estada de
várias semanas em Paris para aperfeiçoamento das técnicas de
representação junto de alguns dos mais prestigiados atores e encenadores
franceses da época.
Aos setenta e três anos, Taborda começou a ensurdecer. A última personagem que representou foi o preguiçoso da farsa “Juiz da Beira” de Gil Vicente, já quase completamente surdo. Afastou-se pouco depois dos palcos, tendo-lhe sido atribuída uma honrosa reforma pelo Parlamento. Morreria a 5 de março de 1909 em sua casa, rodeado de grandes amigos. Antes de partir, o pintor Columbano Bordalo Pinheiro retratou-o e o escultor Costa Mota Sobrinho esculpiu o seu busto, que ainda hoje se encontra exposto no átrio do Teatro D. Maria II. O busto representa o ator já envelhecido, constituindo um retrato fiel do grande Taborda, recordado por todas as gerações de atores que se lhe seguiram como um verdadeiro exemplo de profissionalismo e dedicação ao teatro.
Aos setenta e três anos, Taborda começou a ensurdecer. A última personagem que representou foi o preguiçoso da farsa “Juiz da Beira” de Gil Vicente, já quase completamente surdo. Afastou-se pouco depois dos palcos, tendo-lhe sido atribuída uma honrosa reforma pelo Parlamento. Morreria a 5 de março de 1909 em sua casa, rodeado de grandes amigos. Antes de partir, o pintor Columbano Bordalo Pinheiro retratou-o e o escultor Costa Mota Sobrinho esculpiu o seu busto, que ainda hoje se encontra exposto no átrio do Teatro D. Maria II. O busto representa o ator já envelhecido, constituindo um retrato fiel do grande Taborda, recordado por todas as gerações de atores que se lhe seguiram como um verdadeiro exemplo de profissionalismo e dedicação ao teatro.
1903
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